Fonte: O Globo
U m cenário bucólico, cercado de vegetação e montanhas, em que aromas diversos levam à vontade de saborear pratos feitos com ingredientes como aipim, queijo coalho, carne defumada, farofa de dendê, camarão ou torresmo. E onde se pode, antes ou depois de degustar boa comida, alimentar o espírito com trabalhos artísticos e peças de artesanato como quadros, aquarelas e cerâmicas. Se a combinação parece atraente, está feito o convite para aproveitar a segunda edição do Circuito de Gastronomia e Artes das Vargens, a ser realizado nos próximos dois fins de semana (dias 6, 7, 13 e 14 de julho). Com 22 restaurantes e 17 artistas e artesãos participantes, o evento tem como pano de fundo as tradições dos dois bairros e se propõe a ser um chamariz de público para estimular o comércio e o turismo na região.
Os artesãos vão expor suas obras em restaurantes ou abrir as portas de seus ateliês ao público. Um dos destaques são as bonecas de pano místicas e personalizadas da Art de Bruxas, marca da atriz e instrutora de ioga Dany Stenzel, e da mestra de reiki Cris Marotta. O processo de confecção inclui a aromaterapia, com produtos que exalam cheiros como o de lavanda, e tingimento com ervas e especiarias como cravo e canela, cacau e café. As bonecas carregam cristais e recebem cores de acordo com o objetivo do cliente: o verde e o rosa são associados à cura; o laranja, à alegria; e o azul, à comunicação.
— Eu me casei, tive dois filhos e percebi que seria difícil criá-los e sair para trabalhar. Aí me veio a ideia de trabalhar em casa criando bonecas de pano, tingidas com especiarias, para parecer aquelas bonequinhas velhas achadas no fundo do baú. Tempos depois me formei em ioga para crianças, reiki e aromaterapia, e recebi várias mensagens da espiritualidade sobre uma missão de cura. Resolvi materializá-la nas bonecas, que eu digo que são realmente mágicas, em virtude da intenção com que são confeccionadas — conta Dany.
Para o Ciga, a artesã criou a coleção Lenda, com bonecas que são a representação de personagens do folclore brasileiro, como Saci Pererê, Curupira e Lobisomem. Esses e outros produtos da marca estarão expostos na loja de artesanato Vida Simples, na Rua Agapanto 24, em Vargem Grande.
— Tive a ideia de destacar o lado mágico das Vargens depois que comecei a conversar com moradores e eles começaram a contar histórias associadas a lendas folclóricas, como um pessoal que disse que todo dia o Saci assobia em seu quintal — explica, detalhando mais seu processo de produção: — A maioria das minhas encomendas são para adultos, que também querem ser acolhidos por essas bonecas que defino como uma cura abraçável. Antes de começar a produzir, tenho uma longa conversa com a pessoa, sobre suas particularidades, como desejos e angústias. Em seguida, fico contemplando uma foto do cliente e faço uma conexão energética. Depois desse processo é que começo a confeccionar no ateliê.
As peças da marca estarão expostas na loja de artesanato Vida Simples, na Rua Agapanto 24, em Vargem Grande. Entre os trabalhos que poderão ser conhecidos no Ciga estão ainda as joias com sementes, raízes e artigos indianos da Luz das Fadas, as velas artesanais de Helen Raposo, as peças de cerâmica feitas à mão de Fátima Pepulim, e as cerâmicas da VG Arte no Fogo.
— Trabalhar com argila é relaxante — diz Priscila Fontebassi, idealizadora da VG, que fica na Estrada dos Bandeirantes 27.633, loja A, em Vargem Grande. — E as peças de cerâmica decoram a casa e são ótimos presentes e excelente opção para decoração de interiores.
Raízes e preços a partir de R$ 20 no menu
Numa região em que a vegetação é uma das marcas, o evento tem a árvore como símbolo. E, a partir deste ano, a ideia é trabalhar um dos seus elementos a cada edição, a começar pela raiz, que é o tema desta temporada. Nesse sentido, os bares e restaurantes devem incluir em seus pratos ingredientes que saem das plantações dos dois bairros diretamente para as cozinhas, como aipim, batata-doce e inhame. Os preços estarão entre R$ 20 e R$ 230.
Dona do Ecco Gastronomia, que oferecerá um nhoque de batata-doce roxa na cama de molho branco, finalizado com castanha-do-pará (R$ 58), a chef Carla Carvalho, que é uma das organizadoras do circuito, diz que a proposta do evento é mostrar que as Vargens são uma região que proporciona bem-estar.
— O Ciga nasceu no ano passado, em meio a notícias recorrentes de violência na nossa região e à necessidade de trazer uma visão positiva das Vargens. Eu e outros empreendedores nos unimos para buscar uma solução para que as pessoas voltassem a frequentar os dois bairros e a valorizar restaurantes e artistas locais, mostrando que a área ainda é tranquila e que as pessoas podem transitar sem medo. Surgiu, então, a ideia de fazer um circuito de gastronomia e arte — detalha. — Nas Vargens, para onde se olha há beleza. É um lugar de montanhas, cachoeiras, quintais, de pegar fruta do pé e acordar com o passarinho cantando.
Carnes, massas e feijoada são destaques nas Vargens
A escolha da data do evento não foi aleatória, esclarece Carla.
— Escolhemos esses dois fins de semana de julho porque é o período em que nossa região fica com esse clima de inverno, com um friozinho convidativo para esses passeios no que chamamos de sertão carioca. Também é uma época em que conseguimos ter uma colheita abundante de raízes, como aipim e batata-doce — conta.
A programação completa pode ser conferida no site cigavargens.com.br ou no Instagram @cigavargens.oficial. Cada estabelecimento terá um painel indicando às pessoas onde elas estão em relação ao mapa do circuito. Os visitantes vão ganhar uma espécie de passaporte com espaços em branco a serem adesivados pelos expositores. Quem visitar dez locais ganha um copo feito de garrafa de vidro reaproveitada.
Os clientes também vão poder preencher uma cédula e depositar numa urna a cada visita, para depois concorrerem a três cestas com produtos dos participantes do Ciga. O resultado do sorteio será divulgado nas redes sociais no dia 20 de julho.
Um dos participantes, o Tapinha Bar, na Rua Esperança 356, em Vargem Grande, funciona há sete anos na garagem de uma casa construída em um terreno de 1.600 metros quadrados, com diversas plantações, como de aipim. E o fruto, cozido com manteiga, será ingrediente de um prato criado para o Ciga e que permanecerá no menu recorrente: o Pernambucano Arretado (R$ 130, para duas pessoas), composto ainda de carne seca desfiada, feijão tropeiro, queijo coalho e farofa de alho. A casa serve ainda outras opções brasileiras, como arroz carreteiro, feijoada, rabada, petiscos e caldos.
Sócio do estabelecimento, Flávio Santos faz questão de contar sua história aos visitantes.
— O terreno foi comprado em 1969 pelos meus pais, que construíram uma casa para receber meus avós, que vieram de Portugal. Meu avô começou, então, a fazer várias plantações, como pés de banana, coco e acerola, que existem até hoje. Herdei o terreno deles, peguei 60 metros quadrados e abri o Tapinha Bar, que é um lugar bem caseiro e familiar — narra Santos, que administra o negócio junto com a mulher, Gizeli Lins.
Outros restaurantes que estão no evento são o Tô na Boa, que sugere o bobó de camarão com farofa de dendê e arroz de coco (R$ 150); o Tonamata, com o torresmo de rolo em cama de aipim da roça, vinagrete, farofa e manteiga de garrafa (R$ 89,90); o Vila Jardins Bistrô, com a costela bovina ao molho de cerveja preta e musseline de batata baroa (R$ 49,90); e o Sertão Carioca, com o duo de bruschettas, pão de inhame com grãos, gorgonzola, mel e creme de queijos com pepperoni (R$ 28), além da opção vegana: pão de inhame com creme de castanha de caju e alho-poró e pesto com mix de cogumelos. Há ainda o La Piedra, com o contrafilé grelhado acompanhado de manteiga de ervas, queijo coalho grelhado, vinagrete de abacate, aipim e farofa de banana (R$ 159,90, duas pessoas); e o Gugut, com camarões gratinados acompanhado de creme de aipim, requeijão e arroz branco (R$ 195).
— Temos muitos pratos de frutos do mar com características capixabas, como a moqueca na panela de barro, porque já tivemos trailer na beira da praia no Espírito Santo e vivemos de pescaria por muito tempo. O mar corre nas nossas veias.— conta Felipe Bomfim, sócio do Gugut. — Hoje, eu tenho lancha e faço pesca submarina.
O público poderá degustar ainda delícias como o nhoque de batata-doce artesanal e espinafre trufado (R$ 69), do Grillo; o atum marinado e salada de batata baroa, tomilho e alecrim (R$ 68), do Check In na Mata; e o refogado de camarões no creme de aipim, arroz de amêndoas, farofa de dendê e batata-doce (R$ 232, para até três pessoas), do Don Pascual; o escondidinho de aipim com recheio de carne, assado no bafo e finalizado com catupiry (R$ 56) do Queijaria; e o risoto de camarão com alho-poró (R$ 69,80) do Cinque Terre.