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A História de Sahy: Entre o Passado, a Natureza e o Presente

Sahy — também grafado “Saí” em documentos antigos — é um lugar repleto de história, marcada por beleza natural, enredos do passado colonial, vestígios do tráfico de pessoas escravizadas, arquitetura histórica e uma contínua transformação até os dias de hoje. Sua trajetória revela muito da formação social e cultural da Costa Verde do Rio de Janeiro. Vamos fazer uma viagem no tempo para entender o Sahy em suas camadas históricas.

O nome “Saí / Sahy” aparece desde o período colonial. A grafia arcaizante “Saí” é encontrada em diversas referências históricas — embora a forma “Sahy” seja a que prevaleceu como denominação popular e localidade no uso moderno. A região era, desde cedo, marcada pela vegetação exuberante, praias e rios, com forte relação com a Mata Atlântica, além de sua proximidade com pontos de navegação marítima.

Sahy se desenvolveu numa combinação de fazendas, engenhos e atividades econômicas típicas do litoral do Rio de Janeiro no século XIX, como cultivo de café, produção de farinha e aguardente, além de atividades portuárias. Esses usos econômicos já sintonizam o local com exportações, comércio marítimo e circulação de pessoas e mercadorias.

O Solar do Barão de Saí (ou Solar do Barão do Sahy), construído por volta de 1831, é um dos marcos arquitetônicos mais simbólicos. Pertencia ao tenente-coronel Luiz Fernandes Monteiro, o Barão de Saí, que tinha influência local, possuía fazendas, terras, se envolvia nas grandes culturas agrícolas da época.


Caso escravidão, tráfico e ruínas arqueológicas

Um dos episódios mais significativos e menos divulgados para muitos é o papel do Sahy como ponto de desembarque e atividade clandestina do tráfico de africanos escravizados. A proximidade com a Ilha da Marambaia e o litoral facilitava esse tipo de ação ilegal, mesmo após leis formais – como a Lei Feijó (1831) e a Lei Eusébio de Queirós (1850) – que proíbem ou regulam o tráfico.

O Sítio Arqueológico do Sahy (às vezes chamado Parque Ambiental e Arqueológico) ocupa uma área de mais de 40 mil metros quadrados, junto à Praia do Sahy. Ali se encontram ruínas de estruturas antigas, como senzalas, casarões, entrepostos, portos, cemitério, capela e outros edifícios que atestam o uso histórico da área como zona de desembarque clandestino e entreposto de escravidão e comércio. Essas ruínas são consideradas um dos maiores vestígios materiais dessa parte da história no Estado do Rio de Janeiro, com enorme relevância patrimonial, cultural e arqueológica.


O apogeu e decaída das atividades econômicas tradicionais

No século XIX, Mangaratiba e seus distritos, como Sahy, viviam uma fase de desenvolvimento econômico ligado ao cultivo de café, produção agrícola como farinha e fubá, aguardente, além de exportações marítimas. O Engenho do Gago, por exemplo, atuava na Praia do Sahy com plantações, produção agrícola, porto para exportação e importação.

Com o passar das décadas, mudanças econômicas, avanços nos modais de transporte, alterações nas rotas comerciais, leis de abolição e fim do tráfico legal e pressão social contra práticas escravagistas mudaram significativamente o quadro. O uso do local foi degenerando, e muitos edifícios históricos deixaram de funcionar ou foram abandonados. As ruínas permaneceram esquecidas por muito tempo, sujeitas à deterioração.


Patrimônio histórico preservado: Solar Barão do Sahy e museu

Entre os símbolos arquitetônicos que sobreviveram ao tempo está o Solar do Barão de Saí (Solar Barão do Sahy). Construído em 1831, o casarão foi residência do Barão do Sahy, hospedou visitas importantes — incluindo Dom Pedro II em 1857 — e funcionou como sede de poder local. Hoje é sede do Museu Municipal de Mangaratiba, um espaço que guarda documentos, mobiliário, acervo histórico, registros fotográficos, narrativas da história local, da escravidão, da arquitetura colonial, e que foi tombado pelo patrimônio estadual.

O museu, após obras de restauração e adaptação, foi reinaugurado com melhorias estruturais: acessibilidade, museografia, restauração de fachadas, cobertura, e outras intervenções para preservação.


Recentes iniciativas de preservação e desafios

Nos últimos anos, Sahy tem sido foco de ações de preservação, debates públicos e iniciativas para valorizar seu patrimônio histórico, cultural e natural. Aqui estão alguns destaques:

  • O seminário “Sítio Arqueológico do Sahy: patrimônio nacional e da humanidade” reuniu autoridades, pesquisadores, MPF, prefeitura e comunidade para discutir políticas de proteção, uso sustentável do sítio arqueológico, e formas de tornar o Sahy um ponto de visitação histórica com responsabilidade cultural e ambiental.

  • A Defesa Civil, após laudos técnicos, interditou o Sítio Arqueológico do Sahy em algumas ocasiões, por risco de desabamento ou colapso de partes das ruínas — por exemplo provocado por trepidações de trens de carga que passam próximo ao local, comprometendo sua estrutura.

  • Há iniciativas de mutirões de limpeza, remoção de árvores danificadas, visitas técnicas para avaliar impactos, sinalização e restrições de acesso como forma de proteção.

  • Também há o Mirante Panorâmico do Sahy – Vereador Wlad da Pesca, inaugurado recentemente, que incorpora o apelo turístico: valorização da vista, do entorno natural, do turismo sustentável, criação de espaços instagramáveis, com paisagismo, jardinagem, promoção do patrimônio natural e cultural.


O Sahy hoje: identidade, potencialidade e tensões

Atualmente, Sahy conjuga vários papéis: é bairro/distrito residencial, local de condomínios de médio e alto padrão, área de preservação ambiental, ponto turístico em formação, e sítio de memória. Algumas características:

  • O Sahy possui loteamentos residenciais, condomínios fechados e áreas valorizadas pela vista, proximidade do mar, natureza e tranquilidade.

  • A infraestrutura urbana melhora aos poucos — comércio, acessos, serviços básicos — mas áreas ainda precisam de melhoria, sobretudo em termos de transporte, saneamento, regulação de ocupações e cuidados ambientais.

  • Há um forte apelo de valorização turísticas: visitantes que procuram natureza, história, paisagens costeiras, mar e lagoas, trilhas, experiências culturais. O mirante, o museu, o sítio arqueológico são peças-chaves desse turismo histórico-cultural.

  • Também há tensões relevantes: preservação vs especulação imobiliária; risco ambiental para as ruínas; ocupações irregulares; vandalismo; necessidade de financiamento e políticas públicas consistentes para manutenção e proteção; compatibilização do desenvolvimento urbano com respeito ao patrimônio e à natureza.


Conclusão: por que Sahy importa

Sahy é um lugar que carrega uma história forte — ligada à escravidão, ao desenvolvimento rural, ao comércio marítimo, à arquitetura colonial — e que também enfrenta os desafios de transformar-se para o século XXI com sustentabilidade, memória e identidade preservadas.

Para Mangaratiba e para todo o litoral fluminense, Sahy representa:

  • Um patrimônio cultural e arqueológico de valor nacional;

  • Um diferencial turístico, com demanda crescente por turismo histórico, ecológico e de experiência;

  • Um local de investimento imobiliário que pode combinar natureza, qualidade de vida e história;

  • E, sobretudo, um símbolo de que memória, identidade e desenvolvimento podem caminhar juntos.

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